terça-feira, julho 18, 2006

Sozinhos até o próximo encontro.

Em 'Uma noite sobre a terra' , taxista recusa uma proposta de ser atriz, pois prefere a sua atual profissão


Sempre achei que existe uma particularidade quase mística e glamourosa em ser órfão. James Dean, em Juventude Transviada, mostrou como a solidão e a rebeldia caminham juntas em uma libertária contradição. Dean Moriarty em ‘On the Road’ (livro de Jack Kerouac), busca sempre a poesia da vida na vertigem de uma estrada desconhecida. Como se percebe, não falo dos solitários depressivos e enfadonhos, que acham simplesmente insuportável uma viagem sem companhia ou mesmo passar o domingo sem um telefonema. Falo dos solitários até o próximo encontro, personagens sem vínculos definidos, que simplesmente curtem uma boa companhia.


Jamursch, cineasta recorrente quando pensamos no individualismo pós-moderno ou nas relações multiculturais, é mestre em apresentar essas personas. Seu cinema muitas vezes se detêm no exato momento em que o encontro se realiza, em que as pessoas se reconhecem ou se estranham. Isso está muito claro em ‘Uma noite sobre a terra’, onde passageiros interagem de diferentes formas com os seus respectivos taxistas, e em ‘Sobre café e cigarros’, encontros, combinados ou não, regado as drogas lícitas mais presentes em nossas rotinas (pelo menos da maioria).


Nesse dois filmes, ambos divididos em episódios, temos um bom exemplo de como explorar criativamente as situações corriqueiras tão presentes em nossas vidas.


Os curtas de ‘Café e Cigarros’ e os segmentos de ‘Uma noite sobre a terra’ começam ou terminam com uma partida ou uma chegada, o que significa dizer, com a possibilidade de uma conexão entre as pessoas. Nesse sentido, as participacões de garçons e de taxistas é bem funcional. Tanto Bill Murray, quanto Steve Buscemi em ‘café e cigarros..’ aparecem na tela e não se ‘comportam’ como figurantes - como normalmente os atendentes são em nossas vidas - assumindo inclusive uma posição privilegiada e de protagonismo na mini-narrativa. Conversar com os garçons enquanto toma um café, ou bater um papo com o taxista durante o curto percurso até chegar em sua casa, é o que resume essa configuração das relações efêmeras do dia-a-dia.


Esse descompromisso próprio dos solitários errantes, nos mostra que assim como um curta-metragem, alguns encontros na vida podem ser casuais e efêmeros, mas nem por isso são descartáveis.

2 Comments:

At 1:23 PM, Anonymous Anônimo said...

aaah, que sozinho que está esse post. venho. quem sabe um dia ainda não vou a uma dassessões, apesar de serem no mesmo dia/hora do tintin, né?
bj

 
At 5:19 AM, Blogger arthur lins said...

neh. por enquanto nas quartas...mas como tu sabes...queria q fosse outro dia.

 

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